terça-feira, 1 de dezembro de 2015

J. Brito

Modernismos...

As palavras, como os vestidos, entram e saem da moda. Atualmente uma delas que grita é a palavra “palace”. Usa-se atualmente “palace” para tudo. Há anos, logo depois da crisma do antigo teatro Casino (que passou a ser Palace Theatre) a palavra estacionou um poucochito. Não estava em moda... De dois anos para cá, desembestou, celebrizou-se. Hoje tudo é “palace”. Já há três hotéis, quatro cafés, duas casas de bilhetes de loteria, uma de “tolerância” e uma de “bicho”, com o nome de “palace”. A epidemia é pior do que a que houve há tempos com o nome de “Rio Branco”. Um carteiro do Correio, que já tinha no seu livro de notas 12 ruas com o nome de Rio Branco, 13 leiterias, 17 bazares, 19 restaurantes, 12 casas de bicho, 11 vendas, enlouqueceu no dia em que lhe disseram que a travessa do Senado também passava a ser rua Rio Branco; e depois desse dia nunca mais as cartas chegaram a seu destino. Primeiro que se acerte a qual das doze ruas do Distrito Federal se destina uma carta que traga o nome de Rio Branco, o destinatário morre de velho.
Agora, a moda é com a palavra “Palace”. Nas proximidades do largo de S. Francisco há o “Palace Sorte” (casa de bicho), na rua do Hospício há o “Palace Paradis” (casa que não é de bicho), mas o cúmulo é uma senhora que anuncia nos jornais e assina-se “Palace Mariquinhas” – francamente é demais! Percebe-se que ela se chama Mariquinhas da Silva, Mariquinhas da Boa Vida ou Mariquinhas Quinhentos Réis. Mas a moda tem uma grande força sugestiva. Como talvez essa senhora tenha lido por toda a parte a palavra “Palace”, como “Palace” é a palavra que está na moda, entendeu ela que era “chic” pra burro pôr o “Palace” no nome. E nem ao menos assina “Mariquinhas Palace”; o “chic” é antepor ao nome a palavra fatal: Palace Theatre, Palace Hotel, Palace Café, Palace Mariquinhas. Francamente, não nos falta ver mais nada...


Gazeta de Notícias, 20 de outubro de 1916.

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