“Isto é cadeia”
“Nós precisamos de um governo-ditatura que feche esse Congresso; precisamos ainda de um estado de sítio para coonestar o fuzilamento de todos esses ladrões conhecidos e apontados pelo povo”.
Estas solenes palavras, que eu cuidadosamente gravo entre aspas, não me pertencem: pertencem a um fazendeiro em Santa Rita do Sapucaí, o Sr. coronel Antônio Moreira da Costa, que, no caso, para fixar a autoridade do que diz, tem a qualidade de ser irmão do presidente de Minas.
Voto contra o Sr. coronel! Voto contra as duas proposições do Sr. coronel. Por dois motivos: primeiro, porque fechar o Congresso seria pôr em sérias dificuldades os rapazes da imprensa que tem a obrigação de fornecer pilhérias ao público; segundo, porque ter de “fuzilar todos esses ladrões” era um trabalho maluco! Como fuzilar? Se tudo é ladrão, na opinião do Sr. coronel, quem ficaria para executar os culpados?...
A história é velha, mas cabe aqui. Em certa cidade do interior, a cadeia era pequena para conter os ratoneiros da zona. O carcereiro tinha sérias dificuldades para acomodar lá dentro toda a rapaziada que infringia o 7° mandamento da Lei de Deus, que manda “não furtar”. Um belo dia o homenzinho dirigiu-se ao governador da cidade e fez a reclamação. Era preciso uma cadeia maior.
– Mais ou menos de que tamanho? – perguntou o governador.
– Uma cadeia muito grande – disse o carcereiro.
E ambos olharam em torno, calculando, avaliando o número de ladrões prováveis que podia haver na cidade.
– Homem, você sabe de uma cousa?... O melhor é mandar levantar uma grande muralha em torno da cidade, ao redor de toda a cidade, e ficarmos nós também cá dentro.
– Também nós?!...
– Sim. Na opinião deles, nós também somos uns patifes é melhor que fiquemos todos.
Parece que não é bem isso o que deseja o Sr. coronel. S. S., naturalmente, fica do lado de fora da muralha, e quer o estado de sítio para fuzilamento do resto. Aqui é que está o difícil! Quem fuzila?... Se todos nós somos, se o país inteiro é – na opinião do Sr. coronel – um país essencialmente... agrícola, quem ficará para dar ao gatilho?... O Sr. coronel sozinho, lá em Santa Rita do Sapucaí não poderá constituir pelotão... Parece que o melhor é fazer mesmo como o tal governador da cidade do interior: mandar levantar a grande muralha em torno de todo o país (exceção feita a Santa Rita), pespegar uma grande placa azul, como essas das esquinas com o seguinte letreiro: “Isto é uma cadeia”, deixando do lado de fora somente o Sr. coronel com um grande chicote na mão. Para grandes males, grandes... muralhas.
Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1916.
“Nós precisamos de um governo-ditatura que feche esse Congresso; precisamos ainda de um estado de sítio para coonestar o fuzilamento de todos esses ladrões conhecidos e apontados pelo povo”.
Estas solenes palavras, que eu cuidadosamente gravo entre aspas, não me pertencem: pertencem a um fazendeiro em Santa Rita do Sapucaí, o Sr. coronel Antônio Moreira da Costa, que, no caso, para fixar a autoridade do que diz, tem a qualidade de ser irmão do presidente de Minas.
Voto contra o Sr. coronel! Voto contra as duas proposições do Sr. coronel. Por dois motivos: primeiro, porque fechar o Congresso seria pôr em sérias dificuldades os rapazes da imprensa que tem a obrigação de fornecer pilhérias ao público; segundo, porque ter de “fuzilar todos esses ladrões” era um trabalho maluco! Como fuzilar? Se tudo é ladrão, na opinião do Sr. coronel, quem ficaria para executar os culpados?...
A história é velha, mas cabe aqui. Em certa cidade do interior, a cadeia era pequena para conter os ratoneiros da zona. O carcereiro tinha sérias dificuldades para acomodar lá dentro toda a rapaziada que infringia o 7° mandamento da Lei de Deus, que manda “não furtar”. Um belo dia o homenzinho dirigiu-se ao governador da cidade e fez a reclamação. Era preciso uma cadeia maior.
– Mais ou menos de que tamanho? – perguntou o governador.
– Uma cadeia muito grande – disse o carcereiro.
E ambos olharam em torno, calculando, avaliando o número de ladrões prováveis que podia haver na cidade.
– Homem, você sabe de uma cousa?... O melhor é mandar levantar uma grande muralha em torno da cidade, ao redor de toda a cidade, e ficarmos nós também cá dentro.
– Também nós?!...
– Sim. Na opinião deles, nós também somos uns patifes é melhor que fiquemos todos.
Parece que não é bem isso o que deseja o Sr. coronel. S. S., naturalmente, fica do lado de fora da muralha, e quer o estado de sítio para fuzilamento do resto. Aqui é que está o difícil! Quem fuzila?... Se todos nós somos, se o país inteiro é – na opinião do Sr. coronel – um país essencialmente... agrícola, quem ficará para dar ao gatilho?... O Sr. coronel sozinho, lá em Santa Rita do Sapucaí não poderá constituir pelotão... Parece que o melhor é fazer mesmo como o tal governador da cidade do interior: mandar levantar a grande muralha em torno de todo o país (exceção feita a Santa Rita), pespegar uma grande placa azul, como essas das esquinas com o seguinte letreiro: “Isto é uma cadeia”, deixando do lado de fora somente o Sr. coronel com um grande chicote na mão. Para grandes males, grandes... muralhas.
Gazeta de Notícias, 15 de setembro de 1916.
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