SUBLIMES...
Do sublime ao ridículo há só um passo...
Li uma notícia, achei sublime, achei ridícula. O regimento vai passando. Uma senhora reunira em torno de si, em sua residência, um bando de crianças. Nisso, passa o regimento. Assim que as crianças viram os soldados começaram a cantar o Hino da Bandeira e o Nacional. Sublime! O comandante do regimento, ato contínuo, mete a força em linha e manda que as praças cantem o hino. Ainda sublime, se for verdade. Depois, em companhia dos oficiais, o comandante vai cumprimentar a senhora pela lembrança, pelo espontâneo. (A notícia não diz se a senhora ofereceu café, mas é certo). Continua o sublime.
Continua o sublime. Mas parece que o nosso entusiasmo começa a descambar. Há só um passo, não há mais que um passo do sublime ao ridículo. A força vai passando. Muito bem. “Rantamplan! plan! plan!” como na cançoneta. O grupo de crianças, de repente, em vez do “Tempo será” e do “Chicote queimado” – começa o Hino da Bandeira. O comandante manda fazer alto: – “Toca aí o hino, Vitorino!” – e ali mesmo, ao sol, suados, carabinas ao ombro, os soldados começam a cantar. É dramático. Quando os soldados acabam de cantar, o comandante, entusiasmado, diz: “Rapazes, vamos lá acima, vamos agradecer...”
É sublime esse entusiasmo agora! É sublime, mas compromete. Essas crianças que fazem deter uma força que passa; esses soldados em forma, ao meio da rua cantando o hino; o comandante, com os oficiais indo agradecer (não se sabe se tomaram café) – tudo isso é altamente sublime, altamente patriótico, altamente grandioso, mas dá vontade de rir...
É preciso não passar da medida. Do sublime ao ridículo não há senão um passo... Não demos esse passo, amigos! É preciso que nos contenhamos um pouco, que não arrotemos tanto entusiasmo recolhido de uma vez só – porque a fita pode queimar com um ridículo formidável...
Gazeta de Notícias, 24 de setembro de 1916.
Do sublime ao ridículo há só um passo...
Li uma notícia, achei sublime, achei ridícula. O regimento vai passando. Uma senhora reunira em torno de si, em sua residência, um bando de crianças. Nisso, passa o regimento. Assim que as crianças viram os soldados começaram a cantar o Hino da Bandeira e o Nacional. Sublime! O comandante do regimento, ato contínuo, mete a força em linha e manda que as praças cantem o hino. Ainda sublime, se for verdade. Depois, em companhia dos oficiais, o comandante vai cumprimentar a senhora pela lembrança, pelo espontâneo. (A notícia não diz se a senhora ofereceu café, mas é certo). Continua o sublime.
Continua o sublime. Mas parece que o nosso entusiasmo começa a descambar. Há só um passo, não há mais que um passo do sublime ao ridículo. A força vai passando. Muito bem. “Rantamplan! plan! plan!” como na cançoneta. O grupo de crianças, de repente, em vez do “Tempo será” e do “Chicote queimado” – começa o Hino da Bandeira. O comandante manda fazer alto: – “Toca aí o hino, Vitorino!” – e ali mesmo, ao sol, suados, carabinas ao ombro, os soldados começam a cantar. É dramático. Quando os soldados acabam de cantar, o comandante, entusiasmado, diz: “Rapazes, vamos lá acima, vamos agradecer...”
É sublime esse entusiasmo agora! É sublime, mas compromete. Essas crianças que fazem deter uma força que passa; esses soldados em forma, ao meio da rua cantando o hino; o comandante, com os oficiais indo agradecer (não se sabe se tomaram café) – tudo isso é altamente sublime, altamente patriótico, altamente grandioso, mas dá vontade de rir...
É preciso não passar da medida. Do sublime ao ridículo não há senão um passo... Não demos esse passo, amigos! É preciso que nos contenhamos um pouco, que não arrotemos tanto entusiasmo recolhido de uma vez só – porque a fita pode queimar com um ridículo formidável...
Gazeta de Notícias, 24 de setembro de 1916.
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