domingo, 6 de março de 2016

J. Brito

Velha história


“Cinco mil réis no bicho que der hoje”.
A historia é velha e muito conhecida. Era o caso daquele delegado de polícia, em cuja zona havia muitos “bicheiros”. Pela manhã, chamava o ordenança, o cabo Osório, e mandava “fazer o jogo”. Isto é: mandava em envelope fechado as suas saudades aos jurisdicionados que bancavam o bicho. Um elegante bilhetinho, perfumado, em papel rosa, com a singela inscrição: “Cinco mil réis no bicho que der hoje”.
O cabo Osório ia de “bicheiro” em “bicheiro” e entregava o jogo de “seu doutor”. Às 4 da tarde, chegava à porta do gabinete da delegacia, fazia uma continência e dizia sorridente:
– Às ordens de V. S., “seu doutor”. Então V. S. hoje foi feliz?...
O delegado sorria contente.
– Vá lá, Osório, receber. Tive hoje um palpite muito bom. Acertei. Vá receber.
Cabo Osório repetia sua visita diária aos “bicheiros” e levava o dinheiro que o delegado tinha ganho honradamente com o suor do seu rosto.
Isso durante três, quatro, dez, quinze dias. Cabo Osório não sabia o “gênero” em que o delegado organizava a lista, e por isso se admirava que ele acertasse todo o dia.
Sábado, pela manhã, cabo Osório foi fazer o jogo. Entregou os envelopes fechados e não se conteve. Tirou uma moeda da algibeira e entregou ao “bicheiro”:
– Aqui tem. Duzentos réis no palpite de “seu doutor”.


Pela primeira vez nesse dia cabo Osório ganhou no bicho. E ficou freguês. Os “bicheiros” da zona é que deram o desespero.


Gazeta de Notícias, 21 de agosto de 1916.

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